Gramalote: a cidade reconstruída
Em dezembro de 2010, no nordeste da Colômbia, a cidade de Gramalote foi engolida por um gigantesco deslizamento de terra. Desencadeada pelo fenômeno climático La Niña (que é o resfriamento das águas superficiais do Pacífico, com severas consquências climáticas), a massa de lama soterrou mil casas, transformando a vida de 6 mil pessoas. As chuvas fortes desabrigaram milhares de colombianos em outras regiões do país naquele período.
Após o incidente em Gramalote, o governo local decidiu formar uma equipe multidisciplinar para compreender os eventos e orientar a reconstrução do vilarejo, cujos primórdios datam da segunda metade do século 19. Geólogos, urbanistas, eco-hidrólogos e conservacionistas se uniram e constataram, entre outras coisas, que a povoação havia sido construída sobre uma linha de falha geológica na confluência de rios e córregos. Durante as chuvas extremas de 2010, o solo úmido foi sacudido por um tremor de terra e veio abaixo.
Desde então, a reconstrução de Gramalote em um outro local na mesma região é discutida. “Terminamos as análises ao final de 2013”, relata o colombiano Leonardo Sáenz, eco-hidrólogo da ong Conservação Internacional e phD em manejo de recursos hídricos pelo King’s College de Londres. “Gramalote está sendo reconstruída neste instante e estará pronta em 2016”.
No trabalho inédito, o time de especialistas atuou em conjunto para determinar uma localização mais sustentável e resiliente às intempéries climáticas para o vilarejo. “Desastres naturais”, afirma Leonardo Sáenz, “como inundações e deslizamentos de terra, estão sendo exacerbados pelas alterações climáticas; ecossistemas intactos podem fazer a diferença na mitigação desses eventos”. Co$ting Nature foi fundamental na definição da nova infraestrutura local: estradas e serviços urbanos poderão ser construídos com a garantia de baixo impacto sobre áreas essenciais ao fornecimento de água, sequestro de carbono e abrigo para espécies animais – “os blocos de construção de ecossistemas saudáveis”, nas palavras de Sáenz.
O caso de Gramalote talvez seja o primeiro no mundo em que uma cidade é inteiramente planejada do zero a partir de critérios de capital natural, tendo o suporte tecnológico de ferramentas como Co$sting Nature (outros sistemas, com vocação parecida, foram utilizados para complementar as análises). Ao final dos trabalhos, os pesquisadores asseguraram à nova Gramalote uma localização com baixo risco de deslizamentos de terra; cercada de áreas naturais que proporcionam um contínuo abastecimento de água limpa e a mitigação dos desastres naturais; além de oportunidades de turismo.
Em seu novo local, Gramalote poderá “prosperar exatamente por sua interação com a natureza, ao invés de ser ameaçada por ela”, enfatiza Sáenz. Outro benefício é o de facilitar os esforços governamentais para a criação de mecanismos que assegurem a conservação de áreas naturais essenciais à prestação dos serviços naturais – vantagens que ultrapassam em muito as fronteiras do povoado colombiano. “O que fizemos em Gramalote pode ser replicado em qualquer outro recanto tropical”, conclui o pesquisador colombiano.
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